A semana 20 por Fernando Marques
A Gina está ótima na cena com os remédios – ótima em seu
desempenho, eu quero dizer; já de saúde, não sabemos. Toma um remédio atrás do
outro justamente para combater males trazidos por... remédios! Obviamente,
trata-se apenas de um número de palhaçaria e não tem nada a ver com a sociedade
que medicaliza a vida inteira. Afinal, a palhaça é necessariamente um ser puro,
que faz um humor ingênuo, capaz de agradar aos pequenos e despertar nossas
(eca!) crianças interiores, certo?
Errado. Em algum outro post deste blog (não me lembro qual e
fiquei com preguiça de procurar, mas acho que foi sobre o Hamlet) eu já
falei de como os bufões, ancestrais dos palhaços atuais, eram os únicos
autorizados a dizer verdades incômodas mesmo aos mais poderosos.
Contemporaneamente (e todo mundo com quem já conversei sobre o assunto já me
ouviu falar disto), assisti uma vez – o 11 de setembro ainda estava bem próximo
– a um palhaço norte-americano que fazia uns números com fogo usar suas tochas
para mimetizar os aviões que derrubaram as torres gêmeas, fazendo uma crítica
genial ao imperialismo e a seu país de origem.
Pois Gina, tendo falado da medicalização da vida, fala agora
de solidão na hora da morte. Patricia já evidenciou, no post anterior, que isso
tem a ver com a situação da mulher, que geralmente é encarregada do cuidado de
todos que estão à sua volta e muito frequentemente não tem quem cuide de si.
Gina prepara o próprio velório – coroa, velas, caixão de cedro forrado com
seda, salgadinhos e assentos para os convidados. Mas quantos convidados?
Quantos salgadinhos e quantas cadeiras? Morre-se só? Na hora da morte, haverá
alguém? (Sem papos metafísicos).
Sim, a cena ganhou um momento melancólico e há, eu acho,
alguma beleza. Concordamos, eu e Patricia, que agora precisamos sair daí, que a
cena, agora, precisa subir de novo. Não temos, no entanto, nenhuma ideia de
como fazer isso. Seja como for, tenho gostado do que temos – inclusive da
tristeza e da solidão.
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