A semana 16 por Fernando Marques
“Nada a fazer” é a emblemática primeira fala de Esperando
Godot e se repetirá algumas vezes ao longo do texto. Ela exprime bem a
situação dos personagens e, de alguma forma, sintetiza um dos aspectos fortes
da peça. Vladimir e Estragon estão presos à espera, nada podem fazer além de
esperar. E isso faz da peça, em alguma medida, uma peça do não acontecimento.
Nesse sentido, a peça contraria a noção etimológica de
drama, termo que, vindo do grego, significa ação ou ato. E Aristóteles dizia
que o drama – o texto dramático – imitava não o ser humano, mas suas ações. É
bem verdade que, em dramaturgia e em cena, o próprio diálogo pode configurar
ação – a interação entre personagens, os embates que daí surgem, as tramas que
se formam pelas falas, tudo isso pode revelar ação e, ao longo da história,
isso será mais ou menos privilegiado.
E, obviamente, os personagens que esperam Godot dialogam
entre si e, portanto, agem. Mas é uma ação vazia, é um ciclo repetitivo em que
tudo o que acontece é: nada. Mesmo a tentativa de suicídio dos personagens é
frustrada, dando a perspectiva de que não há mesmo como escapar da repetição, do
não acontecimento. Aliás, o primeiro e o segundo ato terminam com um personagem
chamando o outro para ir embora e, apesar da concordância do companheiro,
nenhum dos dois se move. Eles permanecem ali e, também contrariando o teatro
clássico, ao final da peça, a crise ou o conflito não se resolve. Não há
resolução, não há resposta, não há ordem a ser (re)estabelecida.
Bem, esses três parágrafos sobre o não acontecimento no Godot estão aí pra eu dizer agora que esse é, então, um aspecto que passamos
a trabalhar. Eu já tinha dito que partimos de algumas rubricas do texto que
indicavam a relação dos personagens com peças do vestuário tinha indicado
também que a Patricia tinha inserido uma moeda na cena; ela, por sua vez, já
disse que fomos para o trabalho, sem o nariz a princípio, de construção de uma
partitura corporal com o casaco para, em seguida, fazer as costuras da cena e a
construção de sentidos.
Agora, é hora de
introduzir o chapéu – compramos um pela internet, precisamos que ele chegue pra
irmos pra experimentação – e a espera. Isso porque decidimos que, enquanto as
coisas acontecem, Gina espera por alguém, por seu Godot. Mas não uma espera
passiva e contemplativa. Então, é isto: esperar o chapéu, introduzir a espera e
ir pensando em como se encerra a cena sem que quebremos o ciclo do não
acontecimento. Vejamos.
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