A semana 15 por Patricia Galleto
Bota o casaco, tira o casaco,
coloca-o ao contrário, ele desliza sobre os braços, algo se perde em seus bolsos,
torna a vesti-lo, torna a tirá-lo. O trabalho a partir de Esperando Godot, que teve início com a relação de Gina com seu
sapato – mais precisamente com algo que incomodava seu pé dentro dele –,
seguiu, agora, com a experimentação com o objeto casaco (que, na verdade, é um
blazer que já foi figurino da Gina no começo dos tempos!).
Trilhando um caminho diferente dos processos anteriores da pesquisa, partimos da ideia de criar uma partitura corporal, uma sequência de movimento, para aí ver para onde isso nos levaria, quais intenções preencheriam essa relação com o objeto, qual dramaturgia poderia surgir dali e como isso tudo dialogaria com a obra de Beckett, ou com o suco que extrairíamos dessa obra.
Iniciou-se, então, minha missão particular
de estudar as possibilidades físicas com o casaco, mapeá-las e ver como poderiam
ser executadas tecnicamente. Esse foi o dever de casa proposto por Dinho, que
sinalizou que eu não precisaria me preocupar com a ligação dessas “partes” que
seriam descobertas. Isso ficaria para um segundo momento, assim como preenchê-las
de sentidos que nos servissem.
Esse procedimento de começar mais
friamente por uma sequência de movimentos me fez lembrar alguns processos
criativos que experimentei com a mímica. No nosso caso, aqui, optamos por fazer
essa investigação e esse mapeamento sem o nariz inicialmente. E assim levantei algumas
ações que me pareceram, além de motivadoras para possíveis jogos com o objeto (considerando,
sim, a lógica da palhaça), favoráveis à construção de um ritmo para a cena, que
foram:
Usar casaco ao contrário;
Escorregar casaco pelos braços;
Usar num braço só;
Perder a mão no bolso, procurar a
mão;
Escorregar de novo casaco,
trocando de braços;
Colocar com os braços trocados;
Girar o casaco sem vesti-lo;
Embolar na mão;
Amarrar na cintura.
Inevitavelmente, no entanto,
pensei na ligação de uma ação a outra, o que me ajudou a estruturar esse
experimento como uma sequência uma pouco mais “azeitada”, que será apresentada
ao Dinho na próxima semana (e, provavelmente, reestruturada). Aproveitei meu trabalho
sem o nariz para também decupar a relação com o sapato, que havia sido criada na
semana anterior – na ocasião, já com o nariz e sem partir necessariamente de
uma execução técnica da ação, diferentemente do que estamos fazendo com o
casaco.
O trabalho sem o nariz me pareceu
importante para desenhar um escopo dentro do qual Gina poderá passear e recriar
até mesmo os movimentos previamente mapeados, recheando-os com intenções,
personalidade, mudando ou não o rumo da prosa, estabelecendo um ritmo e uma
lógica. Somar-se-á a isso a costura dramatúrgica do Dinho. Ao menos esses são
os planos! Por enquanto, neste momentinho exato, eu olho para o processo mais
como intérprete e menos como palhaça. No final, uma vai ajudando a outra.
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