A semana 17 por
Patricia Galleto
Nesta semana introduzimos mais um
elemento na cena: o chapéu. Vale lembrar que temos trabalhado a partir da peça Esperando Godot, do Beckett, como
contamos nas publicações anteriores. Em nossa cena, Gina atua basicamente em
três eixos: procurar moedas em si mesma; arrumar-se para ir (não sabemos
aonde); esperar algo ou alguém (não sabemos o que ou quem). Como explicou Dinho
no último texto, partimos da premissa do não acontecimento presente em Godot. Nesse não acontecer, a palhaça
desenvolve essas ações, indo de uma a outra e repetindo-as de diferentes
maneiras.
Foto: Ivna Messina |
Durante esse processo, inserimos elementos de vestuário, como o casaco e, agora, o chapéu. Resolvemos seguir de forma muito semelhante à que fizemos com o casaco. Exploramos algumas possibilidades de manipulação do objeto improvisadamente para, então, elencar as possíveis ações e truques com o chapéu. Desta vez, recorri a tutoriais no YouTube, já prevendo a minha falta de habilidade com malabarismos e efeitos de virtuose. Mesmo com o tutorial, a dificuldade permanece. Talvez não tenhamos o tempo necessário para treinar os truques elencados, mas procuramos focar aqueles que parecem ser mais simples, apenas para dar algum brilhinho na ação de vestir o chapéu em meio à espera e à preparação para a saída – e também porque essas ações de Gina é tudo o que “acontece” enquanto o que seria um acontecimento maior não se realiza nunca. A cena, a vida, é o durante.
Dinho aponta que esse momento de
vestir o chapéu será o último antes de finalizar a cena (Gina deverá de fato
sair, primeiramente porque é necessário um desfecho sem recursos de luz, e, dramaturgicamente,
palhaços costumam ter a saída de cena como uma etapa importante do número –
geralmente envolta em uma espécie de ápice –; em segundo lugar, porque, como eu
e Dinho conversamos, a espera do quase tedioso “nada a fazer” presente em Godot é, na realidade, uma espera burguesa,
que não condiz muito com a nossa realidade latino-americana, em que a fome
reclama e sobreviver é uma necessidade diária).
Por fim, entre os objetos
inseridos na cena está, em um dos bolsos de Gina, um especial, que vale o
destaque aqui – um nariz de palhaça. Não de qualquer palhaça. Na cena, ele aparece
brevemente como o nariz de Julieta, o nariz de Miss Jujuba. Uma singela
homenagem àquela que não está, que não vai chegar, mas que ainda assim se faz
presente em todas nós mulheres, palhaças, em nossas atividades e em nossas
vidas. Julieta, presente!
E, para os que se divertem com
mesóclises, digo: tornar-se-á indispensável a fluidez de manipulação de todos
esses elementos na cena para que consigamos o ritmo e a intenção desejados.
Além disso, temos como próximo passo a afinação dos momentos em que a espera/procura
pelo(a) Godot é evidenciada através de falas pontuais de Gina.
Então treinemos e sigamos!