A semana 10 por Patricia Galleto
No trabalho com Antígona, na cena que estamos criando, há um corpo, que seria o de Polinices. No entanto, esse corpo não tem características realistas; ele consiste basicamente numa bola de tecido envolta por um edredom amarrado, fazendo o que seria o equivalente ao pescoço. Num primeiro momento, Dinho me deixou livre para experimentar possibilidades de interação com nosso corpo-edredom.
Esse estado de pânico foi conduzindo a experimentação, que nos levou a tentativas da palhaça de esconder o corpo, esconder as velas e a planta, encontrar saídas e justificativas, explicar-se de alguma forma, até mesmo se fingir de morta junto com o morto (e depois no lugar dele). Vale lembrar que, como explica Dinho no post anterior, temos a presença de um “Jorge” na plateia, que seria qualquer pessoa do público para quem Gina olha com desconfiança e medo, como se essa pessoa fosse seu dedo-duro e fosse contar para Creonte que sua guarda não tinha evitado que as honras fúnebres fossem feitas. Em suma, “Jorge” funcionou como o ponto de apoio da cena, e era principalmente para ele que as tentativas da palhaça de se safar passaram a ser dirigidas.
Uma vez levantadas as possibilidades do que fazer com o corpo e os objetos, elencamos algumas que nos pareceram mais interessantes. Outras sugestões também foram propostas pelo Dinho depois de assistir à improvisação. Ainda sem fecharmos um roteiro de ações, nós estipulamos os caminhos que pareceram funcionar, deixando espaços abertos para o que ainda não sabemos.Ao mesmo tempo, segurar a cena
inteira nesse mesmo estado de pânico em todas as ações nos pareceu um pouco
pobre para a palhaça e suas potencialidades de jogo, além de monocórdico
dramaturgicamente. Assim, começamos a sublinhar mais conscientemente os momentos
em que a palhaça “se distraía” entre uma coisa e outra. Um deles é quando Gina,
ao segurar o corpo, brinca com ele como quem brinca com uma bola de futebol (e
aqui a palhaça lida diretamente com o que de fato é o objeto, e não com o que
ele representa ao longo da cena). Ela entra nesse jogo e sai dele ao ver
“Jorge” e se dar conta de que precisa se livrar desse enrosco todo. A ideia é
que ela possa criar essas brechas de outros estados de brincadeira e depois voltar
àquele que estabelecemos como principal, a angústia de resolver o problema. As
nuances da cena começam a ganhar corpo; e o corpo, mais funcionalidade como
trampolim para o jogo.
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